sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Órfão de candidato

O assunto nesse espaço é jornalismo impresso diário, então devo dizer que o que me motivou a tecer os comentários que se seguem foi um texto publicado no jornal Estado de Minas dos diários associados, que levantou a possibilidade de um terceiro mandato do presidente Lula. Aí pensei num eleitor comum e decidi narrar a sua história.
Aos 16 anos votou pela primeira vez para presidente da república, foi às ruas, comícios, passeatas, panfletagem, bandeiras em punho, chuva, suor e lágrimas. Gritou e lutou como devia lutar um jovem naquela idade. Um país que acabara de sair da ditadura militar, que havia muitos anos não sabia o que era eleger o seu principal mandatário, estava preste a escolher seu novo presidente. No primeiro turno vários candidatos, representando cada um sua parcela da sociedade, alguns são inesquecíveis como o Marronzinho e o candidato de uma frase só: “meu nome é Enéas”. No segundo turno, que foi uma novidade criada pela constituição promulgada um ano antes, a eleição polarizou-se entre o candidato preferido da grande mídia dominante, o caçador de marajás das Alagoas, o candidato atleta, o galã que poderia estar na novela das oito, representante de algo que não tirava os pés do domínio elitista de quase 500 anos de república. Do outro lado da disputa o retirante nordestino, que veio para o sul maravilha no caminhão pau-de-arara , que passou fome, que não tem diploma , que tem Silva no nome, o torneiro mecânico que perdeu o dedo sendo explorado pela grande máquina capitalista, o sindicalista, o deputado constituinte que defendeu todas as conquistas sociais dos trabalhadores na constituição de 1988,.
Era hora de ir para as ruas, de distribuir santinhos, de ganhar cada dia mais um voto: do parente, do vizinho, do amigo, do colega de sala de aula. Naquele ano o rapaz estava no curso secundário, engajado no movimento estudantil, tinha o dever de criar a discussão política entre os outros estudantes, mas sem demonstrar a sua preferência, não era petista nem comunista, era Lula e pronto.
Chegou o dia do pleito, santinhos na mão na porta de escolas onde estava ocorrendo a votação, aí chega a polícia toma os panfletos e o manda para casa, pois é proibido fazer boca-de-urna, que nada, pega mais santinhos e vai para outra escola, de repente os mesmos policiais aí não tem jeito, foi encaminhado para o distrito policial, em nenhum momento teve medo de ser preso, foi só aí que se lembrou que ainda não tinha votado, e se não pudesse votar tudo teria sido em vão. Jurou aos policiais que iria tomar o rumo de casa, e foi o que ele fez, pegou seu título e seguiu para sua seção eleitoral.
Na porta da sua seção eleitoral, mais confusão, polícia, militantes, fiscais... mas ele não queria mais tumulto, viu que o povo brasileiro estava ávido pela democracia, mas totalmente desabituado a votar, a decidir seu próprio futuro.
Na fila ia chorando e cantarolando ; “meu primeiro voto, Lula lá...”. Mais tarde chorou a primeira derrota, Lula perdeu a eleição, mas a democracia venceu. A maioria dos brasileiros decidiu que ainda não estávamos prontos para um governo dos trabalhadores.
Foi eleito presidente: Fernando Collor de Melo.
1989
Primeiro turno
1º - Fernando Collor de Mello - 20.607.936 votos (30,57%)
2º - Luiz Inácio Lula da Silva - 11.619.816 votos (17,18%)
Segundo turno
1º - Fernando Collor de Mello ) 35.089.998 votos (53,04%)
2º - Luiz Inácio Lula da Silva 31.076.364 votos (46,96%)

O presidente Collor alguns anos depois seria afastado do cargo, porque um monte de gente decidiu que deveria ser assim. Um movimento que ficou conhecido como: “Os cara pintadas”, mas uma vez a mídia rotulou e todos foram acompanhando, sem saber quem criou e por que? Só sei que no dia da votação o rapaz estava lá, cara pintada de verde e amarelo, no meio da praça sete apinhada de gente, acompanhando num telão o voto de cada deputado, pelo sim e pelo não ao impeachment. Era como no futebol, se seu time perde uma partida, a revanche é muito mais saborosa.
Aquilo era um misto de copa do mundo, carnaval e circo, tudo junto e misturado sem ninguém saber direito qual time estava ganhando, qual escola de samba estava desfilando, ou quem eram o palhaços.
Em 1993 outra eleição , mais uma vez votou Lula, , mais uma derrota agora no primeiro turno, desta vez para FHC e o Plano Real.
1994
1º - Fernando Henrique Cardoso (eleito) 34.364.961 votos (54,27%)
2º - Luiz Inácio Lula da Silva 17.122.127 votos (27,04%)
Em 1998 outra eleição, outra derrota ainda no primeiro turno, de novo para FHC o Real estava dando certo.
1998
1º - Fernando Henrique Cardoso (eleito) 35.936.540 votos (53,06%)
2º - Luiz Inácio Lula da Silva 21.475.218 votos (31,71%)
Em 2002 a grande vitória, um voto no primeiro turno outro no segundo turno, contra José Serra, vencer a eleição e ainda por cima contra os tucanos, era bom demais.
2002 Primeiro turno
1º - Luiz Inàcio Lula da Silva 39.455.233 votos (46,47%)
2º - José Serra 19.705.445 votos (23,19%)
Segundo turno
1º - Luiz Inácio Lula da Silva 52.772.475 votos (61,28%) )
2º - José Serra 33.356.860 votos (38,72%)

A posse foi mais um dia de choro, não de derrota como antes, e sim de alegria e emoção. Ouvir o companheiro Lula sendo chamado “Presidente Lula da Silva”, soou estranho mas era demais para o coração do garoto que aguardou tantos anos para soltar o grito de vitória.
No discurso quando Lula disse, aos prantos, que o primeiro diploma que ele recebia na vida era de “prisidente da república” faz jorrar as lágrimas do menino que sonhou com esse dia, que também veio da roça, que também sofreu os perrengues de quem vai pra luta na cidade grande, sem lenço e sem documentos.
A vitória do Lula é a vitória de um povo que luta e vence num país em que tantos querem tudo pela lei do menor esforço.
A vitória do Lula é a vitória de todo Zé da Silva que honra e dignifica as pessoas de bem, que acreditam que trabalho e educação podem construir um país melhor. Que o suor dos trabalhadores brasileiros não tem preço, que a dignidade de um homem não se compra, e que o caráter de uma pessoa é forjado pelas marteladas que ela vai tomando vida afora.
Naquele dia da posse do Lula, o rapaz pode ver que era o primeiro dia do novo país, na nomeação do ministério em lugar de banqueiros, usineiros, latifundiários como via sempre, agora haviam trabalhadores, professores, ecologistas, ambientalistas, sindicalistas, negros, brancos, homens e mulheres comprometidos com o que tínhamos de mais autêntico na sociedade brasileira.
É claro que muita coisa não deu certo, foram muitos erros, alguns graves. Mas era impossível quebrar paradigmas tão antigos quanto a nossa república, mudar hábitos de 500 anos de domínio de pessoas que não queriam largar o osso. Muitos adversários tornaram-se aliados, muitas práticas de barganha foram mantidas, muitos equívocos poderiam ter sido evitados.
O fato é que tivemos um governo aquém do sonho, mas muito além do que era possível, com o avanço em conquistas sociais e a manutenção do que vinha dando certo no governo anterior.
Lula fez um governo inteligente, sem causar a revolução que esperavam os operários e sem contrariar a elite, caminhou a passos largos para a reeleição, superando obstáculos que pareciam intransponíveis, como o escândalo do mensalão.
Em 2006, nova eleição, e mais dois votos em Lula. Mais uma vitória sobre os tucanos, agora sem a odisséia de antes.
2006
Primeiro turno
1º - Luiz Inácio Lula da Silva 39.968.369 votos (41,64%)
2º - Geraldo Alckmin 39.968.369 votos (41,64%)
Segundo turno
1º - Luiz Inácio Lula da Silva (reeleito) 58.295.042 votos (60,83%)
2º - Geraldo Alckmin 37.543.178 votos (39,17%)

Lula perdeu aliados mais radicais e ganhou votos de eleitores mais conservadores. Vai caminhando num governo mais tranquilo que o primeiro, deixando para que a história avalie o seu desempenho. Talvez em 20 ou 30 anos, Lula seja avaliado como o presidente que mudou a história do país, quem vivência um fato histórico é incapaz de reconhecê-lo.
Depois de toda essa narrativa histórica, volto ao título deste texto: “Órfão de candidato”, se não errei nas contas o nosso eleitor votou 7 vezes em Lula para presidente e como a próxima eleição é em 2010, por 21 anos não teve outro candidato. Nessa mesma situação estão cerca de 30 milhões de brasileiros que sempre votaram no Lula.
E agora? Votar em quem?

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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